domingo, 11 de outubro de 2015

O pequeno T. e as maçãs!

"O pequeno T. mamou na maminha da mãe até tarde. Mas cedo mostrou interesse na comida que via a sua família comer. Certo é que logo que começou com as sopas e papas, os horários das refeições foram ajustados para que estivesse a mesa com a família. E de acordo com o seu interesse, e capacidades que foi demonstrando, foi progressivamente experimentando alimentos novos e novas consistencias. Antes dos nove meses, e ainda só com dois dentes já se aventurava nos arrozes e nas massas. Tudo sempre levado a boca pela sua própria mão pois tinha mais interesse. Prato nem vê-lo...a comida era (e ainda é) colocada no tabuleiro da cadeirinha... E no final obriga sempre a uma limpeza geral... Mas isso faz parte porque para aprender é preciso explorar, sentir e experimentar. A verdade é que dá gosto vê-lo comer... Não pelas quantidades, pois os pais não o deixam entrar em exageros, mas pela diversidade de alimentos que come e pela forma e mestria como mastiga. Agora, aos 13 meses está completamente integrado na dieta (saudável!) da família. Não dispensa a sopa, o conduto com legumes (adora pepino e tomate!) e a fruta na mão ao almoço e ao jantar. Os lanches incluem pão, iogurte natural, bolachas e fruta. Ainda bebe leite no biberão mas está já avançado no treino da caneca e da palhinha. E já se vai aventurando com a colher a tentar comer sozinho. A primeira palavra que disse foi "água", consegue explicar quando têm fome e aponta o que quer comer apesar de ainda não saber dizer. E explica também muito bem quando não quer mais, o que os pais respeitam...Ah,há é problema das maçãs... com casca e na mão...não há quem coma maçãs a sua beira que não fique sem elas..."

A diversificação alimentar, altura em que a criança começa a comer outros alimentos para além do leite, tem um papel essencial na vida do bebe e no seu crescimento e desenvolvimento. A partir dos 6 meses de idade o aleitamento deixa de corresponder a todas as necessidades nutricionais do bebe. Surgem também nessa altura necessidades inerentes ao desenvolvimento neurosensorial, motor e social que fazem com que se deva proceder à introdução de alimentos que não o leite e de textura progressivamente menos homogénea. Pretende-se nessa altura que o bebe inicie o treino de texturas e sabores que lhe permitirão integrar a dieta familiar cerca dos 12 meses e que estarão na base da sua dieta (saudável !) futura.  Inicialmente os alimentos são apresentados ao bebe na forma de cremes homogêneos. Mas pouco depois a estimulação da mastigação toma um lugar essencial na diversificação alimentar. Só estimulando a mastigação se consegue que a criança tenha verdadeiramente acesso à diversidade de sabores e texturas de que dispomos, que tire todo o potencial estimulante (motor, social e cognitivo) da alimentação e que consiga integrar as refeições da família. Por isso é importante ter em consideração que existe uma “janela de oportunidade”, que ocorre entre os 8 e os 10 meses, para o desenvolvimento da mastigação e para o treino da aceitação de alimentos progressivamente mais sólidos e de paladares e texturas diferentes. A ausência deste treino pode comprometer todo o processo de diversificação alimentar e aumenta o risco futuro de dificuldades alimentares.É o caso daquelas crianças já grandes que querem tudo "passado" e só aceitam meia dúzia de alimentos e consistencias conhecidas. Claro que este treino deve ser feito tendo em consideração as capacidades que a criança vai evidenciando, mas a verdade é que a maioria das crianças nesta idade está preparada para avançar. É por isso essencial 1) estarmos atentos aos sinais de curiosidade que a criança evidência e correspondermos, 2) estimularmos a sua autonomia e permitirmos-lhe explorar os alimentos, 3) fazermos as refeições em família para darmos o exemplo (no caso da criança menos curiosa as refeições em família são ainda mais importantes para a levarem a experimentar)  , 4) fazer uma progressao nas texturas do cremoso, para o pastoso, gromoso e depois sólido mole tendo sempre em conta a capacidade de resposta da criança, 5) tornar a alimentação interessante através de diversidade de sabores, texturas e apresentações, 6) respeitarmos os sinais de fome e saciedade da criança. 

Uma diversificacao alimentar estimulante promovendo a evolução e autonomia da criança e considerando estas janelas de oportunidade garante a estimulação do apetite e a procura de novos paladares e texturas para uma alimentação saudável para a vida. 

De referir ainda a importância da mastigação para o posterior desenvolvimento da linguagem e da dentição. Ah...e não são necessários dentes para dar início à mastigação. 

Boas aventuras alimentares ;) 


ANTES


DEPOIS