Se em termos económicos e de gestão de tempo esta até possa parecer uma boa ideia, de facto não o é. E porquê?
A consulta "de rotina" é um momento de promoção da saúde e de comportamentos saudáveis, de implementação de estratégias de prevenção, de realização de rastreios, de orientação de problemas persistentes, de esclarecimento de dúvidas acerca de temas gerais como alimentação, sono, educação, desenvolvimento, etc, de avaliação da criança como um ser biopsicosocial em constante evolução...
Se pensarmos bem, quando a criança está doente todos estes objectivos tornam-se mais difíceis, para não dizer impossíveis, de serem cumpridos. Porquê?
Porque tanto pais, como a criança, como o próprio médico estão focados no problema agudo...É impossível de se fazerem perguntas sem que a resposta remeta para o momento actual. Por exemplo, o médico questiona "então o que é que ele costuma comer? Come bem e de tudo?" E os pais inevitavelmente respondem "- aí, ele ultimamente não anda a comer nada...".
A própria criança está menos colaboraste, mais desconfortável, mais tensa e impaciente colaborando menos na entrevista e impedindo muitas vezes a realização de um exame mais completo.
Também, frequentemente a doença aguda pode condicionar alterações no exame que dificultam a avaliação da sua normalidade induzindo em erros. Algumas das alterações encontradas podem ser valorizadas como decorrentes da doença aguda e não o serem ou vice versa (por exemplo, más posturas por dores no corpo, sopros cardíacos relacionados com a febre, etc).
E depois não nos podemos esquecer que o tempo é finito, não só o da consulta mas também o da nossa atenção, por isso muitas das mensagens transmitidas pelo médico ficam esquecidas, ou nem chegam a ser dadas, por haver uma doença aguda, que precisa também de recomendações e que preocupa os pais, a prejudicar a sua transmissão.
Como se percebe pelo exposto a situação de realizar um "dois em um" na consulta compromete a qualidade da mesma. Mas importa referir uma outra situação que também é frequente e que põe em ainda mais sério risco o seguimento correto da saúde das crianças.
Tal acontece quando alguns pais têm a ideia de que ao levarem a criança ao médico, mesmo que seja em contexto de doença, a sua saúde já está vigiada e já não precisam de fazer a dita "rotina". Isso é de novo um erro.
Se eu levei o meu filho quando estava doente ao médico e ele orientou aquele problema específico não quer dizer que todo o resto esteja bem. Porque o médico e pais estavam atentos aquela situação que motivou a consulta e só a essa!
Possivelmente não foram feitas todas as medições, não foram abordados uma série de assuntos, e mesmo não foram examinadas detalhadamente algumas zonas do corpo, porque tal não era pertinente para o caso e pelas mesmas razões que já foram referidas acima.
É frequente as crianças irem muitas vezes ao médico no inverno porque estão várias vezes doentes, e isso não quer dizer que a sua saúde esteja bem vigiada...Até pode estar a ser feita a orientação de um problema específico, até o médico pode ter ficado com uma visão geral da saúde da criança, e até pode mesmo ter abordado e orientado alguns pequenos problemas que foi identificando, mas não quer dizer que tudo esteja a ser devidamente avaliado ou abordado.
Por tudo isto, por favor não descurem a importância das consultas "de rotina" e agendem-nas com o cuidado que a saúde do vosso filho merece!
Sugiro que marquem a consulta "de rotina" no pediatra para um dia em que filho e pais se sintam bem, num horário em que não haja pressas nem grandes conflitos com as rotinas da criança, e que pensem antecipadamente em todas as dúvidas e situações que querem esclarecer. O médico só está com criança 30 minutos! Os pais estão todos os dias com a criança, e, mais do que ninguém conseguem detetar quando algo de errado se passa. E não se esqueçam de perguntar também aos outros cuidadores, a educadores e professores se existe algum aspeto que deva ser discutido na consulta.
Lembrem-se que o pediatra vai avaliar uma série de parâmetros de forma sistemática mas pode haver situações e temas que escapam a essa avaliação e que os pais ou o jovem querem ver discutidos e devem, por isso, ser ativos em trazer esse assunto à discussão, para que nada fique por avaliar ou orientar.
Toda esta informação e este tempo é essencial para que o pediatra consiga prevenir, diagnosticar e orientar da melhor forma a saúde do vosso filho...promovendo com isso felicidade!
Boas consultas!